É natural que, em certo momento, sob uma luz amarela, eu me interrogue sobre a insuficiência de recursos destinados a estancar o vazio do peito.
A realidade é assombrosa, uma vez que nossa primeira manifestação de consciência foi o medo da morte e que cotidianamente testemunho uma vontade de acabar com a vida, em razão de sentir-me viva. Nisso, a angústia e o prazer caminham tão intimamente em função de um imenso pico de tensão, tão estimulante que nos acorda dá adormecida morte em vida. Suponho depressa que aquilo que mobiliza minha mais profunda e almejada vontade de morrer é uma falta que não é da ordem da necessidade, é da ordem do desejo.
O que vale é o gozo, o gasto, o esforço, um refúgio para os devaneios que não se contentam em provar o doce sabor da extinção, isso inquieta. Em verdade, é fato que isso também denuncia a natureza humana.
Em palavras digo aqui que a felicidade é só para os que não sabem da poesia. A felicidade me enjoa, me retrai; a felicidade é um rosto simpático a qual não me familiarizo, tampouco me desperta a curiosidade em conhecê-lo. Ao passo que a poesia retarda a grande finalidade da vida: a morte.
A angústia, de fato, se transfigura em um sintoma jamais inibido do aparelho psíquico. Por isso, a morte me tem mais que a vida e os lampejos de beleza vistos ao caminhar é o fogo-fátuo ocasionada pela decomposição da carne de cada poeta subordinado a uma vida em que arduamente, ou não, a morte é permitida, e eu anseio que o leitor também a permita.
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